A Jornada Diagnóstica das Doenças Raras: O Papel Crucial do Teste do Pezinho

As mais de 7 mil doenças raras¹ identificadas até o momento atingem uma população global estimada em 300 milhões de pessoas, – sendo aproximadamente 13 milhões apenas no Brasil, conforme o Ministério da Saúde.

A jornada diagnóstica dessas doenças muitas vezes se mostra complexa e desafiadora, considerando aspectos como heterogeneidade clínica, pouco conhecimento e familiaridade dos profissionais de saúde com o tema e acesso limitado a especialistas e centros de referência especializados.

No mês do Teste do Pezinho, ressaltamos a importância dessa triagem neonatal no diagnóstico precoce de doenças raras, com um foco especial nas Doenças Metabólicas Hereditárias (DMH), abordando também os desafios diagnósticos, as tecnologias avançadas utilizadas e o papel da comunidade médica na conscientização e manejo dessas condições.

Doenças raras e as Doenças Metabólicas Hereditárias

Conforme definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças raras são um conjunto de doenças potencialmente complexas, progressivas e debilitantes que afetam até 65 pessoas a cada 100 mil indivíduos ou 1,3 a cada dois mil1.

Elas são divididas em genéticas (anomalias congênitas ou de manifestação tardia, deficiência intelectual, Doenças Metabólicas Hereditárias) e não genéticas (autoimunes, infecciosas, inflamatórias). Além disso, existem os cânceres raros (leucemia mieloide crônica, mielofibrose, mieloma múltiplo) e as doenças respiratórias raras (fibrose pulmonar idiopática).

Apesar de haver essa subdivisão, 80% dos diagnósticos decorrem de questões genéticas, enquanto os outros 20% estão distribuídos em causas ambientais, infecciosas e imunológicas. Além disso, aproximadamente 75% das doenças raras afetam crianças2.

Merecem atenção especial as Doenças Metabólicas Hereditárias (anteriormente conhecidas como Erros Inatos do Metabolismo), cuja prevalência é de 1 em cada 1500 nascimentos3. Elas decorrem de desordens genéticas, resultando na falta de atividade de enzimas específicas ou defeitos no transporte de proteínas. São enfermidades que afetam diretamente o metabolismo, prejudicando o crescimento e o desenvolvimento de crianças e o desempenho normal de adultos em qualquer idade4. Um clássico exemplo de Doença Metabólica Hereditária é a Galactosemia.

Galactosemia

A Galactosemia é uma doença rara causada pela deficiência de enzimas da via de degradação da galactose no organismo. A principal característica da doença é o aumento da concentração plasmática de intermediários do metabolismo da galactose – monossacarídeo obtido, principalmente, mediante o consumo de leite e seus derivados5.

A manifestação clínica da doença varia conforme a enzima defeituosa: em sua forma mais grave e comum, na qual ocorre deficiência da galactose-1-fosfato uridil transferase (GALT), são observados vômito, diarreia, perda de peso, icterícia, hepatomegalia e ascite5.

Trata-se de uma condição que se manifesta logo no início da vida, podendo levar a danos neurológicos, hepáticos e oftalmológicos, colocando em risco a vida do recém-nascido. Por isso, a triagem neonatal se mostra indispensável na suspeita do quadro e investigação diagnóstica, possibilitando abreviar a jornada até o diagnóstico definitivo.

Embora o Teste do Pezinho disponível gratuitamente pelo SUS seja obrigatório e abranja a investigação de doenças como Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito, Doença Falciforme, Toxoplasmose e outras hemoglobinopatias, ele ainda não engloba a Galactosemia, cuja investigação faz parte do programa de ampliação do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), atualmente em fase de implantação.

Os desafios da jornada diagnóstica6

Muitas das doenças raras são multissistêmicas, o que reforça a importância de um acompanhamento multidisciplinar (incluindo desde o médico geneticista, até profissionais de outras especialidades), que seja engajado em cuidar integralmente dos indivíduos afetados em diferentes áreas de atuação.

Além disso, o diagnóstico precoce permite que o cuidado seja direcionado conforme a especificidade de cada indivíduo, considerando o tipo de enfermidade e sua manifestação clínica. Isso pode variar de pessoa para pessoa, melhorando o prognóstico e facilitando a indicação de intervenções terapêuticas mais eficientes.

Entretanto, a jornada diagnóstica percorrida por pacientes e seus familiares nem sempre é fácil, esbarrando em desafios que englobam a manifestação de sintomas pouco específicos, dificuldade de acesso a profissionais e centros especializados, heterogeneidade de sinais e sintomas, entre outros.

Neste cenário, a realização do Teste do Pezinho baseada em análises bioquímicas e genética molecular representa um significativo avanço no diagnóstico das doenças raras.

Tecnologias e avanços diagnósticos: análises bioquímicas e genética molecular

As análises bioquímicas e a genética molecular constituem um avanço marcante na jornada diagnóstica das Doenças Metabólicas Hereditárias e doenças raras de modo geral, possibilitando a investigação e a identificação de sinais suspeitos.

Isso porque as análises bioquímicas permitem a avaliação do funcionamento dos processos metabólicos do organismo. Enquanto no campo da genética molecular, os exames possibilitam a identificação de alterações no DNA que justifiquem a manifestação de alguns quadros clínicos7.

Esses testes compõem a triagem neonatal e fazem parte de um conjunto de ações preventivas responsáveis por identificar de forma precoce doenças metabólicas, genéticas, enzimáticas e endocrinológicas. O resultado possibilita o diagnóstico preciso, tratamento adequado e prevenção de possíveis sequelas8.

Teste do Pezinho e seus diferentes tipos

O Teste do Pezinho, disponível de forma gratuita pelo SUS, é um componente fundamental da triagem neonatal. Atualmente, é possível expandir essa testagem com opções de exames ampliados, que investigam mais de 400 doenças e condições potencialmente tratáveis.

Teste do Pezinho Nova Era – Triagem Neonatal Genética e Bioquímica9

O Teste do Pezinho Nova Era utiliza uma amostra de sangue coletada do pé do bebê para investigar mais de 400 doenças e condições potencialmente tratáveis, incluindo genéticas, metabólicas, hormonais e hematológicas, além de uma doença infecciosa.

É recomendado que a coleta seja realizada no momento da alta da maternidade, respeitando o período compreendido entre as 48 horas completas e o 5º dia de vida.

Entre seus principais diferenciais, destacam-se:

  • Investigação de mais de 400 doenças e condições potencialmente tratáveis, que podem se manifestar já nos primeiros dias de vida e que necessitam de intervenção rápida.
  • Associação de análises genéticas específicas com diferentes análises bioquímicas, utilizando tecnologias avançadas como Espectrometria de Massas em Tandem (MS/MS), além dos melhores métodos laboratoriais convencionais.
  • Resultado rápido, que aliado ao tratamento adequado pode evitar danos irreversíveis.
  • Diminuição de resultados falso-positivos, reduzindo o nível de estresse para a família e os custos com procedimentos laboratoriais desnecessários.
  • Laudo com interpretação de resultados: embora sejam exames mais sofisticados e complexos, o laudo tem uma apresentação de fácil entendimento e com interpretação personalizada dos resultados.
  • Assessoria médico-científica para auxiliar a família e o médico assistente no esclarecimento de eventuais dúvidas.

Principais doenças ou grupos de doenças investigados pelo Nova Era:

  • Hipotireoidismo Congênito;
  • Fenilcetonúria e Hiperfenilalaninemias;
  • Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias;
  • Fibrose Cística;
  • Hiperplasia Adrenal Congênita;
  • Deficiência de Biotinidase;
  • Toxoplasmose Congênita;
  • Deficiência de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD);
  • Galactosemias;
  • Tirosinemias;
  • Leucinose e outras Aminoacidopatias;
  • Distúrbios do Ciclo da Ureia;
  • Distúrbios da Beta-Oxidação dos Ácidos Graxos;
  • Acidemias Orgânicas;
  • Erros Inatos da Imunidade;
  • Atrofia Muscular Espinhal (AME 5q);
  • Avaliação de 286 genes que poderá permitir a confirmação de doenças acima definidas, além da investigação de muitas outras enfermidades.

O papel da comunidade médica na conscientização sobre doenças raras

A comunidade médica desempenha um papel crucial na promoção da conscientização sobre doenças raras e na identificação precoce dos sinais de alerta, independentemente da área de atuação. Quanto antes os sinais suspeitos forem identificados e encaminhados para investigação adequada, mais rápido será o diagnóstico e melhor será o prognóstico, permitindo o encaminhamento para especialistas e a indicação de intervenções terapêuticas mais eficientes.

O avanço contínuo da ciência e da tecnologia na área da saúde tem contribuído para que a triagem neonatal abranja um número crescente de doenças raras, que, devido à sua complexidade, progressão e potencial debilitante, prejudicam o desenvolvimento de bebês, crianças e adultos.

A realização do Teste do Pezinho pelo SUS é um marco na saúde pública, permitindo a detecção precoce de doenças raras e melhorando o prognóstico dos pacientes. Além da testagem básica, o Teste do Pezinho Nova Era representa um avanço significativo, auxiliando médicos e profissionais de saúde no manejo dessas condições e na orientação de pacientes e seus familiares.

Para mais informações sobre as soluções diagnósticas disponibilizadas pelo Laboratório DLE/ Grupo Fleury, entre em contato através do telefone 4020-8080 ou do e-mail canaldocliente@dle.com.br.

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Referências

  1. Muitos Somos Raros, “Raros por quê?”.
  2. Jornal da USP, “Instituto da Criança revela que 70% dos internados possuem alguma doença rara”.
  3. Grupo Pardini, “Investigação do Lactente Gravemente Enfermo”.
  4. Biblioteca Virtual em Saúde, “O que é Acidose Láctica Congênita
  5. Universidade Federal da Paraíba | Centro de Ciências da Saúde | Departamento de Ciências da Saúde | Departamento de Ciências Farmacêuticas | Programa de Educação Tutorial (PET-FARMÁCIA), “Galactosemia
  6. Fiocruz, “Doenças raras: a difícil jornada até chegar ao diagnóstico correto”.
  7. Fleury, “Genética molecular”.
  8. Ministério da Saúde, “Programa Nacional da Triagem Neonatal”.
  9. DLE, “Nova Era – Triagem Neonatal Genética e Bioquímica”.

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