Triagem Neonatal ampliada no SUS: entenda os benefícios para a saúde dos bebês

Imagina poder identificar uma doença logo em seu início e, a partir do diagnóstico, iniciar tratamentos que trazem mais bem-estar enquanto ainda é tempo. A Triagem Neonatal abre caminho exatamente para que isso seja possível¹. E de forma cada vez mais ampla!

O teste do pezinho, que faz parte da Triagem Neonatal Biológica, identifica indivíduos com risco de desenvolver alguma doença ou condição e que se beneficiariam de uma investigação mais profunda, de ações preventivas ou até de tratamentos imediatos¹. Esta etapa envolve a coleta de uma pequena amostra de sangue do recém-nascido, a qual deve ocorrer prioritariamente entre o 2º e o 5º dia de vida. Assim, o resultado é mais efetivo. Entretanto, se não for possível fazer a coleta no intervalo ideal, a mesma deve ser feita no menor intervalo de tempo após o período recomendado.

No entanto, é importante ter em mente que o teste do pezinho não é capaz de diagnosticar. Ele apenas indica o risco e a necessidade de encaminhar o bebê para exames confirmatórios¹.

Neste artigo, você vai saber mais sobre como esse exame funciona na rede pública de saúde e como ele está se tornando cada vez mais abrangente!

Triagem Neonatal: como tudo começou

Em 2020, mais de 80% dos bebês nascidos vivos no Brasil haviam feito a Triagem Neonatal². Mas antes que esses números expressivos, e que podem ser ainda mais altos, se tornassem realidade, muita história foi percorrida – e começou em 1961, nos Estados Unidos³.

Foi nessa época que foi feito o primeiro teste que hoje faz parte da Triagem Neonatal. Seu potencial revolucionário foi tão grande que não demorou para a Organização Mundial da Saúde recomendar que outros países o aplicassem também³.

Em 1976, o Brasil fez seu primeiro teste – e essa foi uma atitude pioneira na América Latina. Naquela época, porém, apenas 1 doença era investigada: a Fenilcetonúria³. Hoje, esse número caminha para chegar em até 50 doenças/condições triadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS)⁴!

A investigação de doenças pela Triagem Neonatal está crescendo

Em 2021, foi sancionada a lei nº 14.154 que aumenta para até 50 o número de doenças que serão investigadas pelo teste do pezinho aplicado pelo SUS. Essa decisão ampliou a triagem pela saúde pública que antes incluía apenas 6 enfermidades.

Esse avanço, que tanto fará pela saúde dos recém-nascidos, é resultado de uma trajetória que começou em 1992, quando a Triagem Neonatal, por meio do Teste do Pezinho, foi incorporada ao SUS³.

Naquela época, a legislação determinava que o exame fosse obrigatório em todos os recém-nascidos vivos e incluía, além da Fenilcetonúria – a primeira doença que esse teste investigou no mundo –, a análise para Hipotireoidismo Congênito também³.

Tempos depois, em 2001, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) e um dos objetivos principais era ampliar ainda mais as doenças triadas³. Essa ampliação aconteceu e, em 2021, atingiu seu auge com a lei mencionada acima.

Doenças e condições investigadas antes e depois da ampliação:

  • Cenário da triagem antes da ampliação:

Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito, Doença Falciforme, Fibrose Cística, Deficiência de Biotinidase e Hiperplasia Adrenal Congênita.

  • Cenário da triagem após a ampliação:

Fenilcetonúria e outras Hiperfenilalaninemias, Hipotireoidismo Congênito, Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias, Fibrose Cística, Hiperplasia Adrenal Congênita, Deficiência de Biotinidase, Toxoplasmose Congênita, Galactosemias, Aminoacidopatias, Distúrbios do Ciclo da Ureia, Distúrbios da Betaoxidação dos Ácidos Graxos, Doenças Lisossômicas, Imunodeficiências Primárias e Atrofia Muscular Espinhal.

Fonte: Diário Oficial da União, 2021.

Como funcionará a ampliação do teste do pezinho no SUS?

A ampliação sancionada em 2021 ainda está em fase de implementação nos estados. Isso porque, para garantir que essa expansão fosse possível, o Governo Federal orientou que o processo ocorresse por etapas⁴.

Na primeira etapa, a Toxoplasmose Congênita será incorporada, seguida pelas Galactosemias, Aminoacidopatias, Distúrbios do ciclo de ureia e Distúrbios de betaoxidação de ácidos graxos na segunda etapa. A terceira etapa abrangerá as Doenças Lisossômicas ligadas ao funcionamento celular, e a quarta etapa se concentrará nas Imunodeficiências Primárias. A aguardada inclusão da Atrofia Muscular Espinhal (AME) ocorrerá na quinta etapa⁴.

Em resposta à crescente mobilização da sociedade civil e especialistas, o Ministério da Saúde tem analisado a antecipação da inclusão da Atrofia Muscular Espinhal (AME) já na quarta etapa do teste do pezinho em todos os estados⁶. Contudo, ainda não há um prazo definido para essa modificação⁶, e os estados continuam a implementar a ampliação de forma autônoma.

Pode-se observar avanços significativos em algumas regiões do Brasil. No Rio de Janeiro, por exemplo, foram inclusas 47 novas enfermidades em parte de seus municípios, tornando-o o único estado do país a processar o exame coletado em unidades de saúde cadastradas⁷. Na cidade de São Paulo, todos os recém-nascidos na rede municipal de saúde são submetidos a um exame que detecta 27 doenças; para bebês sintomáticos ou internados em unidades de terapia intensiva neonatal, o teste é expandido para abranger 50 doenças⁸. Em Brasília, a rede pública, com a ampliação, começa a diagnosticar doenças lisossomais de depósito, imunodeficiência combinada grave (SCID) e AME, atingindo a capacidade de detectar 62 enfermidades em recém-nascidos, consolidando-se como a maior triagem neonatal do país⁹. Esses exemplos destacam a abrangência e a importância da expansão do teste do pezinho no contexto nacional.

Por que a ampliação do teste do pezinho no SUS é tão importante?

O teste do pezinho investiga uma série de doenças raras, e a manutenção de apenas 6 doenças no sistema público de saúde, apesar de já ser capaz de mudar a história de muitas crianças e famílias, faz com que muitas outras doenças/condições fiquem invisíveis.

Isso porque a palavra “raras” pode passar a ideia de algo pontual, mas, ao expandir o olhar para o todo, vemos que cerca de 13 milhões de brasileiros convivem com alguma doença rara¹⁰.

E, em função da variedade dos sinais e sintomas, um dos grandes desafios enfrentados por esses indivíduos é alcançar o diagnóstico precoce para reduzir as sequelas¹⁰. E é nesta trajetória que o teste do pezinho tem tanta importância: ele faz com que seja possível identificar alterações suspeitas logo nos primeiros dias de vida¹¹.

Com essa informação, o sistema de saúde e as famílias podem aproveitar os benefícios de promover tratamentos específicos, que diminuam ou eliminem lesões irreversíveis, como deficiência mental e/ou físicas¹¹.

Dessa forma, o bebê diagnosticado pode crescer com mais bem-estar e independência e o SUS garante a esses indivíduos o acesso à saúde e a melhores condições de desenvolvimento.


Referências:

  1. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Programa Nacional da Triagem Neonatal.
  2. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Indicadores da Triagem Neonatal no Brasil.
  3. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Normas Técnicas e Rotinas Operacionais do Programa Nacional de Triagem Neonatal.
  4. Agência GOV. Teste do Pezinho será ampliado e detectará até 50 novas doenças.
  5. DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. Lei nº 14.154, de 26 de maio de 2021.
  6. AGÊNCIA CÂMARA NOTÍCIAS. Especialistas cobram do governo detecção da atrofia muscular espinhal pelo teste do pezinho.
  7. SECRETARIA DE SAÚDE ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro é o primeiro estado do Brasil a ampliar o Teste do Pezinho.
  8. PREFEITURA SÃO PAULO NOTÍCIAS. Teste do Pezinho ampliado na Saúde Municipal possibilita diagnóstico precoce para até 50 doenças em recém-nascidos.
  9. AGÊNCIA SAÚDE DF. DF passa a detectar três novas classes de doenças no teste do pezinho.
  10. SENADO FEDERAL. Doenças raras atingem cerca de 13 milhões de brasileiros.
  11. HERMES PARDINI. Teste do pezinho: o que é, como é feito e qual a importância na saúde do seu bebê.